Fusca na Fábrica Jd. São LuísEstamos passando por outubro, o chamado “mês das crianças”, encontrando crianças e jovens de regiões periféricas da cidade de São Paulo que têm tido a oportunidade de entrar em contato com diferentes linguagens artísticas. E sentimos a diferença que isso provoca em suas vidas, pois nos deparamos com gente curiosa, envolvida e educada para ver, ouvir, sentir e aprender mais diante de um trabalho artístico que provoca interesse. Nossa primeira apresentação nas Fábricas de Cultura foi no Jaçanã, numa pequena área de estacionamento, bastante ensolarada, que nunca tinha sido utilizada para a finalidade de apresentação artística, conforme nos informaram os funcionários do lugar. A arquitetura do lugar é impressionante pois os andares da fábrica estão quase que encravados no morro, ao redor de escolas e casas. Do platô de cima, o pessoal da segurança e vigilância assistia nossa peça do alto. Na Vila Nova Cachoeirinha também estivemos no estacionamento, mas desta vez era coberto, com vários outros carros em volta, à beira da rua movimentada, o que transforma o lugar quotidiano em cenário e dá a quem frequenta um outro ponto de vista sobre o espaço. Desde que estreamos nossa peça no interior, em abril deste ano, temos o desejo de realizá-la em estacionamentos, o que aconteceu agora. Acreditamos no poder de atribuir outros sentidos a este local tão frequentado nos tempo atuais, ao torná-lo também um espaço cultural. No Capão Redondo colocamos o carro dentro da sala multiuso, espaço todo branco com detalhes pretos, que compôs muito bem com nosso carro também branco de detalhes vermelhos. A sala em si já nos transporta para um outro tempo-espaço, com toda sua brancura. Fabiano, colocou o Fusca, que tem 1,56m de largura, pela porta que tinha 1,60m. Dois dedinhos prá lá, dois dedinhos prá cá e o carro entrou naquele outro tempo-espaço diferenciado do teatro para um encontro intenso com um grupo de crianças encantador. Ao fim da peça, além de querer saber aspectos técnico como o mecanismo utilizado para que a fumaça saia do escapamento, como fazemos para desmontar o carro e ainda assim deixá-lo íntegro para andar pelas estradas normalmente, eles nos presentearam com risos e comentários poéticos. Um menino nos disse: “Eu posso chamar o carro de carro-música?” Dissemos a ele que costumamos chamar de carro-teatro mas que este sem dúvida seria um bom nome também. Este mesmo garoto nos indagou: “O Fusca ama vocês?”, ficamos encantados diante da pergunta, muito provavelmente motivada pelo coração inflável que surge sobre o carro. O garoto sintetizou, com suas palavras, uma proposta imagética de nossa dramaturgia. E então respondemos a ele: “Sim! Pois ele nos chama de volta quando estamos indo embora, com suas buzinadas”. No Jardim São Luís encerramos nossa jornada pelas Fábricas, com a presença de crianças e jovens alegres e cheios de vida, fazendo nossa apresentação num local coberto, entre um bloco e outro do prédio. À medida que a apresentação avançava, mais gente surgia ao fundo da plateia: eram educadores, seguranças, faxineiras, atentos e participativos, que ficaram até o fim, em pé… Em pleno dia dos professores, todo mundo parou prá ver o Fusca passar.

Comentários